Me sinto um pouco frustrada por
não ser capaz de fazer mais que arroz, bife, massa, rechear pastelão pronto e
seguir algumas receitas. Gostaria de ter o dom de chefs de cozinha e fazer
pratos lindos, exóticos e deliciosos. Até saber cozinhar como uma boa dona de
casa já me servia. Isso porque amo comer. E comer bem, no caso. O problema é
que passo longe de ter este talento. Em contraposição, quando me dá a louca e
cozinho, lamento a cada louça que preciso lavar depois. Fico pensando coisas do
tipo: eu poderia estar lendo um livro, escrevendo, assistindo um filme, tirando
um cochilo e, é claro, colocando o trabalho em dia. Bom, esta introdução
simples é para concluir, de antemão, o óbvio do quanto é duro ser dona de casa.
Ser do lar, muitas vezes, significa abrir mão de ser dona da sua carreira para
cuidar da comida da família e de todas as outras demandas que um lar exige.
Dou mais exemplos da minha inaptidão doméstica e conveniência. Todo dia de manhã, quando saio para o
trabalho, nem cogito arrumar a cama. Raciocínio lógico: para que arrumar se vou
bagunçar na volta? Seguindo a mesma teoria, a toalha de mesa da janta não
precisa ser retirada, já que pela manhã preciso colocá-la de novo para tomar
café. Afora a lógica, todos sabemos que é muito mais prazeroso chegar em casa ou
acordar com tudo nos seus devidos lugares. Cama feita, mesa com aquele vasinho
de flores, pia sem louças sujas, cheirinho no ar de casa recém-limpa. Lembro de
uma vez que minha mãe viajou e me deixou sozinha em casa. Caramba, perdi o fim
de semana inteiro passando aspirador, arrumando camas, lavando louças, organizando
e tirando o pó. E aí me dei conta do
quanto o trabalho da mãe era cansativo e, pior ainda, porque mesmo ela tendo
dedicado o dia todo à limpeza e manutenção da casa, à noite chegavam marido e
filhos e bagunçavam tudo sem dó nem piedade. Hoje penso que minha mãe é louca
por não mandar todo mundo longe, não gritar com cada um que deixa um copo fora
do lugar e por aí vai.
Se ser apenas dona de casa já é
uma tarefa e tanto, imaginem quem tem que trabalhar o dia todo, cuidar da casa
e, em casos mais complexos, do filho, do cachorro e, quiçá, dos pais? Os
tempos atuais tornaram a mulher dona do seu nariz. Hoje ela é empreendedora,
empresária, funcionária e dá seu máximo. Acorda cedinho para trabalhar e só
volta à rotina pessoal à noitinha, quando o que menos faz é cuidar de si.
Conquistou o tão quisto espaço no mercado de trabalho e a tão sonhada
igualdade, muitas vezes em cargos de chefia e extrema responsabilidade e
sobrecarga. Com isso, ganhou muito – não tanto em valorização salarial, mas em
reconhecimento -, mas perdeu também. Perdeu aquele tempinho de descansar depois
do almoço e cochilar no sofá antes de voltar para o batente, de ser mais
presente na rotina escolar dos filhos, de fazer uma jantinha romântica para o
marido, de fazer as compras no super com calma e disposição, de cuidar de si.
Ela está trabalhando mais e vivendo menos.
No fim das contas, eu poderia
começar este texto ao contrário do que comecei. Poderia dizer que é duro ser
mulher de negócios. E que, enquanto donas de casa são frustradas por não terem
dado prosseguimento aos estudos e construído uma carreira, mulheres que
trabalham se frustram por não dedicar mais tempo à família e a si mesmas. E aí,
muitas vezes, essas mulheres de negócios se pegam pensando no quanto seria bom
se ainda lhes restasse um tempinho para serem um pouco mais donas de casa e
voltar a cozinhar como suas avós. E não apenas para alimentar o marido e os
filhos, mas também pelo prazer de cozinhar como hobby (ok, nada de ser chef),
em um cenário atual onde muitas mulheres só têm como hobby descansar.
Coluna publicada em Negócio Feminino
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