A frase do título resume bem a relação de amor não correspondido de muitas mulheres com suas profissões. Em especial daquelas que ignoraram os conselhos de parentes para cursarem Direito ou Medicina e seguiram o tortuoso caminho daqueles que defendem o ideal de trabalhar por prazer. O problema todo é quando o prazer no trabalho não ajuda a conquistar o prazer fora dele. Sorte das advogadas e médicas que além de fazerem uma boa escolha financeira ainda amam o que fazem.

Em nome do amor à profissão, muitas vezes as mulheres têm que abdicar de outros amores que podem afetar o limite orçamentário mensal. Aquela viagem internacional nas férias (ou até mesmo uma interestadual), aquele sapato lindo (que infelizmente é lançamento), o cinema no fim de semana (ainda mais sem desconto para estudante), o curso de dança, a aula de pilates, e os produtos mais gostosos (e caros) do supermercado como Nutella, são bons exemplos de coisas que amenizam o gosto amargo da rotina e seus imprevistos desagradáveis, mas que estão fora de cogitação. Um sapato novo pode representar futilidade para algumas (que podem não ser fúteis com sapatos, mas são capazes de pagar R$ 500 por um show de rock...atenção, mulheres, tudo é relativo!), mas para outras é uma injeção de autoestima necessária para enfrentar a vida. Pois bem, quando você está prestes a cair em tentação, uma voz interior diz: “Terra chamando...”, ou seria: “cartão de crédito gritando!”. Então você volta a si e substitui a viagem internacional pelo passeio pelo litoral gaúcho, o sapato lindo por uma blusinha com tarja amarela de promoção, o cinema por um filme no You Tube, o curso, a aula e a Nutella por.... nada (porque até dieta é cara).

Afora esses deleites consumistas, as mulheres mal pagas do mercado também acabam abdicando de investimentos. Aquela pós-graduação na sua área (porque você é cabeça-dura e insiste em investir ainda mais no seu curso mesmo quando ele ainda não lhe trouxe retorno financeiro) não cabe no bolso. E aí, você, que já não vê perspectiva de crescimento profissional, vê menos ainda, afinal, não tem condições financeiras de investir em seu aprimoramento. E que tal aqueles dilemas: faço pós ou pago o carro? Vou estudar no exterior ou dou entrada no apê? Tenho um filho ou espero me estabilizar? A resposta é quase sempre: “nenhum deles, no máximo um filho de quatro patas, como um gatinho”.

Infelizmente essa é a realidade de muitas mulheres hoje em dia. Elas conquistaram seu espaço no mercado de trabalho, mas não conseguem impulsionar suas carreiras e ganham pouco para consolidar seus planos e saciar seus desejos. É duro admitir, mas nós ainda estamos longe da igualdade salarial com os homens, por mais que tenhamos exemplos de grandes empresárias e até uma presidenta no Brasil. Isso é a minoria. E aí, o que acontece? O diploma de graduação fica pendurado na parede de casa e muitas mudam de área em busca de remunerações mais justas. Já vi designer virar promoter, jornalista virar confeiteira, psicóloga virar auxiliar administrativo, farmacêutica virar vendedora, administradora virar corretora de imóveis, publicitária virar professora de inglês e RP virar garçonete.

Pesquisas apontam as mulheres como melhores líderes, ótimas funcionárias e com melhor capacidade de comunicação. Se as mulheres são tão boas, por que ainda trabalham mais, trazem mais resultados e ganham menos que os homens? Enquanto esperamos o mercado se dar conta do nosso valor, que tal começarmos a fomentar uma reflexão coletiva? Você, educadora física, enfermeira, veterinária, sabe o quanto vale? Você sabe onde quer chegar? Até onde vai sua ambição? Será que você está pronta para dizer “não” quando lhe oferecerem uma remuneração abaixo do que você merece? Afinal, até quando as mulheres vão ficar sem negociar sua carreira? Está na hora de amar e ser amada!

Coluna publicada no site Negócio Feminino