Home Office: o lado bom do lado ruim


O contexto social imposto pelo coronavírus dividiu os trabalhadores em dois lados: time home office e time presencial. Apesar de também ter o pessoal do time híbrido. Diante deste cenário, assumo que, há alguns anos, eu era irredutível ao afirmar que nunca me adaptaria ao home office, devido ao meu perfil comunicativo e social. Ledo engano. O que eu não imaginava é que março de 2020 fosse mudar totalmente minha opinião. Ao começar a trabalhar em casa, só enxerguei benefícios, ainda mais atuando em uma área cujas tarefas são totalmente possíveis em formato remoto. Ganhei bem mais foco, produtividade, organização, gestão do tempo e bem-estar. Consequentemente, me senti bem mais motivada e satisfeita com o trabalho. Que sensação boa começar uma tarefa e poder ir até o fim sem interrupções. Que paz trabalhar sem fones de ouvido, usados para não me desconcentrar com os ruídos do ambiente e colegas - mesmo que não por mal. Que prazer poder assaltar a geladeira e não ter que ficar separando o lanche para levar e, ainda, poder fazer meu próprio almoço e já deixar a louça limpa!

Isso sem falar das vantagens ao considerar o tempo que a gente ganha de vida. Pelos meus cálculos, ao trabalhar em casa, economizo um pouco mais de 1h para ir, 1h para voltar, o valor do transporte, o tempo e desconforto do deslocamento de quem depende de transporte público e o gasto com comida de restaurante. E ainda ganho a possibilidade de usar o intervalo do almoço para ir no super, farmácia, médico, ou apenas almoçar em família. A vida pessoal finalmente está pedindo licença para a profissional e dizendo: "Oi, eu existo! E está tudo bem, e mais certo do que nunca". Nada mais exaustivo do que ter que trabalhar o dia inteiro sem respiro, e ao chegar em casa ter que usar o tempo que sobra para lavar as roupas, limpar a casa, pagar as contas, fazer o super, passar na farmácia, preparar a janta e, se sobrar tempo, cuidar da saúde mental e física, na terapia e academia. Estando em casa, dá para usar o tempo pré e pós-expediente para cuidar da vida em vez de se deslocar.

Além das minhas percepções, comecei a me informar e atestar que o home office já é uma realidade em vários países há muito tempo. Mas Brasil é Brasil e, infelizmente, tudo demora mais para evoluir por aqui. Pensei que eu não veria em vida isso acontecer, e tenho consciência de que só está acontecendo por conta de uma crise sanitária. Lamentável a ausência de um olhar humano e exato ao mesmo tempo sem que algo ruim precise acontecer.

Como profissional especializada em Comunicação Interna e Endomarketing, sempre tive esse olhar mais empático focado na qualidade de vida do trabalhador. Sempre acreditei e tive dados que comprovam que o funcionário é muito mais engajado e entrega melhor seu trabalho quando a vida dele é levada em conta. Melhor ter um funcionário que estende 30 min o almoço para poder levar o filho na escola, do que um desmotivado porque é um pai nada participativo que só trabalha. Essa é apenas uma forma de ilustrar as várias necessidades das pessoas além do trabalho que, nem sempre, são consideradas e ainda passam por vagabundagem.

Virei time home office, não escondo. Claro que me adaptarei a escolha que a empresa onde eu estou fizer, mas só consigo enxergar pontos fortes no novo modelo, tanto para as organizações, que economizam, como para os profissionais.

Felizmente, hoje estou atuando numa empresa que têm se mostrado atenta e conectada com as mudanças que o mundo está vivenciando, deixando as pessoas livres para trabalharem de onde quiserem e confiando nelas. Essa é a palavra que dá o tom deste artigo: CONFIAR. Muitas organizações são contra o home office porque não confiam que seus empregados estarão de fato trabalhando. Aí eu convido à reflexão: se o funcionário performava bem presencialmente, seguirá assim ou será ainda melhor, porque este é o perfil dele. E aquele que já não performava bem presencialmente, talvez seja a hora para rever sua permanência. Resumindo, quem já era bom, se torna ainda melhor.

Eu sou jornalista e, portanto, super comunicativa. Adoro pessoas. Mas, ao mesmo tempo, também gosto de trabalhar sozinha para me concentrar. E não há como negar que o ambiente corporativo não é um aliado desse objetivo. A quantia exagerada de reuniões - em sua maioria que poderiam ser um e-mail, o tempo de duração que rouba o tempo de produção, além das distrações, como o café, o bate papo com os colegas, e as interrupções que dificultam o foco são apenas alguns exemplos dos inimigos do "tempo é dinheiro". Trabalhei numa empresa cuja quantia de reuniões era tão exagerada e o tempo de duração tão longo, além da total falta de objetividade, que me traumatizei. Quando acabavam as reuniões do dia, já acabava o expediente, e eu tinha que fazer hora extra o tempo todo para poder fazer as tarefas que não fiz por conta das reuniões.

Antes não havia comparativo. Hoje, sim. Consigo ver minha vida antes e depois do home office e sei o quanto ganhei em qualidade profissional e qualidade de vida. Espero que tudo que estamos vivendo de ruim ajude a construir algo bom. Estamos perdendo pessoas que amamos para um vírus, mas também perdemos elas diariamente ao ficarmos muito mais tempo vivendo a empresa do que a nossa vida.

Quem me conhece sabe o quanto amo trabalhar e vou sempre dar o meu melhor. Mas os 33 anos me mostraram que é preciso equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e que tem mais gente que precisa de mim além dos meus colegas. Inclusive, eu ando precisando mais de mim. Que o lado ruim traga o lado bom, do olhar mais humano para tudo na sociedade.


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